Já há muito tempo que não vinha aqui. Estou ocupado com o meu Principezinho e não pude cá vir escrever amis cedo. Hoje é mesmo por causa deste grande projecto que aqui escrevo.
Desde Março. Desde Março que ando a faltar às aulas, ando a enviar e-mails até às 4 da manhã, a atender telefones, a ouvir ralhetes, a falar com pessoas, a discutir com amigos, a andar de um lado para o outro e a não dormir. E gosto. Gosto do que faço, gosto de estar a porduzir O Principezinho na Quinta da Regaleira. E é isto que eu quero. Está a ser um grande estágio, um grande desafio para a minha cabeça e para o meu corpo. Está ser trabalhoso mas divertido. É bom e está quase no fim. E nesta recta final é que apareceram os maiores problemas. Sessões esgotadas (230 pessoas). Chuva. Actores doentes. Não é compatível. E toca a a cancelar sessões por atacado.
Agora vou dizer aqui o que a minha companhia não me deixa colocar em comunicados oficiais (e com razão, porque em comunicados oficiais não se devem escrever asneiras), vou dizer aquilo que sinto como produtor deste espectáculo: as pessoas são estúpidas. São. E desculpem pessoas que o são menos (porque as há, mas todos temos um bocadinho de estupidez) mas não posso admitir que faltem ao respeito ao meu trabalho. Filhos: nós (companhia) e eu em particular, respondemo-vos a mails às 5 da manhã, mandamo-vos sms e ligamo-vos a avisar de cancelamentos e alterações. Cancelamos em cima da hora muitas vezes, é certo, esperamos até à última por poder fazer espectáculo, é um facto também, mas tentamos sempre arranjar-vos soluções, as melhores soluções! Temos actores e equipa dispostos a fazer 4 espectáculos por dia para compensar sessões canceladas! 4 por dia! Eu percebo o vosso transtorno, compreendo-o perfeitamente mas não me venham dizer que "talvez S. Exupéry ou o Principezinho teriam dado uma justificação mais... Sem se preocuparem com questões economicistas. Compreendem? Votos de bom trabalho." Questões economicistas? Não. Não compreendo. Pessoas doentes! DO-EN-TES! Não temos o orçamento do Politeama (que, como devem saber, tem muito menos pretensões economicistas do que nós...) para poder ter substitutos! O que é que quer que eu lhe faça? Que lhe mande o texto por e-mail e que lhe diga para estar às 15h junto à oficina das Artes para lhe pôr o microfone? Saímso do Floresta Center para que fosse feita a porcaria de uma loja de desporto no sitio onde se praticava a arte do teatro, cortaram-nos metade dos apoios previstos para este ano. E eu? Como de onde? É assim que eu ganho a vida minha senhora! A fazer teatro! E gosto! De si não. Mas gosto do teatro e da minha vida.
70 sessões meus amigos. 70 sessões a aturar pessoas. 10 mil pessoas. Não há saco que não rebente. Ainda por cima produtor e técnico! E volto a dizer que gosto. Mas não poso guardar estes desabafos para mim. A quem me diz "pena avisarem 5 minutos antes por SMS" apetece dizer "Olhe viesse mais cedo, estamos cá desde 14 de Maio" mais isto é estúpido. Seria mais bonito dizer "se o seu nome começasse por A era a primeira..." mas seria mentira, ou então "então venha você mandar 230 mensagens! Avisámos não avisámos?". É nestas alturas que dou graças a alguém por existir o Optimus TAG webPhone!. Acabava-se com o Facebook e Optimus Webphone para todos.
Acreditem que quando cancelamos uma sessão não o fazemos de ânimo leve, não o fazemos porque sim, não o fazemos porque nos apetece! Não e isso nem faria sentido porque este é o nosso trabalho! E temos orgulho nele! Só cancelamos uma sessão por motivos de força maior (como foi o caso) e acreditem que temos o quíntuplo do trabalho quando não há sessão do que quando há!
Toda a gente devia ser produtor por um dia.
Enfim. Já disse que gosto? Já. Mas apetece-me matar muita gente.
E isto é só a minha opinião. Como pessoa estuúpida que sou.
Carrega!
Um abraço
Fábio.